"Desde la infancia apenas se me cae algo al suelo tengo que levantarlo, sea lo que sea, porque si no lo hago va a ocurrir una desgracia, no a mí sino a alguien a quien amo y cuyo nombre empieza con la inicial del objeto caído. Lo peor es que nada puede contenerme cuando algo se me cae al suelo, ni tampoco vale que lo levante otro porque el maleficio obraría igual. He pasado muchas veces por loco a causa de esto y la verdad es que estoy loco cuando lo hago(...)" Rayuela, cap. 1, Julio Cortázar
Assisti, ontem, ao especial O infinito ao meu redor, de Marisa Monte, na TV. Acabo de escrever a passagem de Cortázar e me lembro do que ela diz, contando de uma estréia em São Paulo. Marisa anuncia que vai tocar um samba, pega do cavaquinho. Na platéia, compenetrada, está a autora do samba, Adriana Calcanhotto, entre miles espectadores.
Tudo escuro, Marisa larga os primeiros acordes. Silêncio no recinto. De repente, o rosto dela fica parado. Ela esquecera, por completo, nesses primeiros segundos, a letra da música. Para uma platéia lotada, e exigente, super exigente, como relata ela, durante o especial - a platéia paulista. Na narração, Marisa diz: "um show com erros é um show especial".
Em seguida, a cantora ri. Havia se lembrado! Começa a cantar.
Da platéia, Calcanhotto sorri. Todos aliviados.
É uma hora grave, esta. Humana. Enquanto vai contando da rotina nas tournês, com as imagens dos shows, Marisa fala que é isto, claramente: é um trabalho feito por seres humanos, todos querem que tudo saia perfeito, mas são humanos, provavel que errem.
Muito aplaudida, Marisa termina o samba. Todos - ela, os músicos que a acompanham, e os que a assistem - tornaram-se um pouquinho mais gente aí.
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