quinta-feira, 6 de maio de 2010

como fazer do seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 21

Tudo o que escreve é um espelho do que é. Ele diz o que vê nela que é justamente o que existe nele.
Não é coerente em nada. Pois não é a pessoa que comanda a vida: é a vida que comanda a pessoa.
Escreve o que lhe dá vontade. Ela lê porque quer.
Por que dá explicações sobre quem é?
Porque sente vir um ataque cardíaco. Para fazer um inventário. Para se crer remediável.
Sabe tudo de memória: por isso, precisa esquecer. Praticar o esquecimento para não se levar preso por vida. Perder os traços do rosto dela, perder o som de sua voz. Deixar que, com o tempo, ela não seja nada, ainda que veja sua fotografia.
O que tem para dizer é o que nasce no momento. Se se repete, é porque se repete. Porque não há criação possível, enquanto for enquanto.
Tem razão em tudo o que diz, mesmo que o tempo passe. Tem razão em tudo o que diz, e ainda assim, segue dizendo a mesma coisa.
Tudo é uma repetição e também ajuda a esclarecer.
E lhe parece incrível que ela siga querendo vê-lo e lê-lo.

(A esperança é uma coisa violenta.)

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