sexta-feira, 31 de julho de 2009

Julio

http://www.youtube.com/watch?v=JDfYG0BIsjA&feature=related

Julio, Julio

"(...) Cualquiera me gana una discusión. No sé defender mis puntos de vista. Pero cuando escribo, en todo caso hay otro camino."

Julio Cortázar in http://www.youtube.com/watch?v=pGe5KiA6cIc

quinta-feira, 23 de julho de 2009

o jogo do mundo (rayuela lá em portugal)

"(...) Foram necessários 45 anos para que Rayuela, de Cortázar, chegasse a ter uma edição portuguesa, esta edição. Se considerarmos que se trata do livro incontornável de um autor incontornável na literatura do século XX, é fácil constatar que 45 anos é uma espera demasiado grande. E, no entanto, esse foi o tempo necessário para que Rayuela chegasse a ser O Jogo do Mundo, o livro que tem neste momento em mãos. Parece-me que todas as editoras portuguesas, desde 1963 até aos nossos dias, deveriam sentir algum embaraço (pelo menos) perante este facto.
Foneticamente, Rayuela é uma palavra que rola pelo interior da boca, como um doce que se desfaz, mas é também verdade que O Jogo do Mundo é um bom compromisso para um título que não é fácil de traduzir em todas as suas tonalidades. De um modo literal, rayuela significa jogo da macaca, esse jogo no qual se atira um seixo e se salta ao pé coxinho. (...) a ideia e a imagem desse jogo estão ligadas a um aspecto que talvez seja o mais referido quando se fala deste livro: a sua forma.
No seu início, o leitor encontra uma tábua de orientação que sinaliza dois modos de ler este texto de Cortázar. Hoje, 45 anos depois, já é possível acrescentar que, para além das possibilidades indicadas pelo autor, têm sido sugeridas várias outras. Este é um livro que, em nenhum momento, minimiza o seu leitor, facilitando-lhe o que quer que seja. Este é um livro que convoca cada leitor para dentro de si, que o solta num labirinto sem lhe indicar a real saída, nem sequer se existe mesmo uma saída. O facto de não haver uma ordem única de leitura é um convite ao leitor intrépido para que arrisque a encontrar os seus próprios caminhos nesta obra. Assim como o terá de fazer neste jogo que, como indica o título português, é o mundo, é a vida. Isto porque é a própria vida que nos é apresentada de um lado e de outro. A vida, para a qual não existe qualquer tábua de orientação. Não creio que esteja a revelar demasiado se disser que é também assim que Horacio Oliveira, o protagonista, sente as imagens e as ideias que flutuam diante de si, consigo. O caos em luta permanente com a ordem: vitórias para ambos os lados.
(...)Como em todos os grandes livros, existe a procura do novo, mas aquilo que se alcança não é uma imagem da própria experimentação, aquilo que se alcança é o contemporâneo que, a avaliar pelos 45 anos de vida que já tem, continua e continuará sempre a ser contemporâneo. As meditações, as discussões filosóficas e literárias, frequentes nestas páginas, são de uma actualidade feroz. Além disso, este O Jogo do Mundo e, também, um livro de prazeres literários tradicionais, como sejam aqueles que advêm de uma caracterização muitíssimo rica das personagens e dos lugares, de uma linguagem variada e imaginativa, com excelentes diálogos e um domínio extraordinário do simbólico e do metafórico. Mas ninguém que conheça a excelência dos contos de Cortázar se poderá surpreender com a mestria que demonstra nesta longa múltipla unidade - se me é permitido o paradoxo. (...) 'o leitor prescindirá de ler o que se segue sem grandes remorsos'. Pela minha parte, a partir do lugar onde me encontro, nunca saberia como considerar dispensável a leitura dessas páginas. Já este prefácio nunca teve a intenção de não o ser. Quem não o tiver lido, seguirá sem remorsos grandes ou pequenos por tudo que aí vêm. (...) a esse potencial leitor indeciso este prefácio quer dizer: sim, deve ler este livro.
Mais nada. O indispensável começa depois desta última palavra."

José Luís Peixoto in Prefácio dispensável à primeira edição em Portugal de O Jogo do Mundo, tradução de Rayuela, de Julio Cortázar, publicada em 2008, pela Cavalo de Ferro Editores.
Extraído de www.cavalodeferro.com

terça-feira, 21 de julho de 2009

cor corpo

cartão postal também


miro la estrella a las tres de la mañana debil azul oscuro
L A E T E R N I D A D
hago caso de hacerme un caracol arrodillada con el almohadón
y no me tiro diez pisos abajo
H A Y Y O
D E N T R O D E M Í
H A Y Y O
ganas de ser una clochard irme a vivir bajo un puente
aprender la rayuela una y otra vez una y otra vez
cuando hay tiempo y silencio, lloro
vivo de invenciones bellas
crear y crear
una y otra vez
para no hacer ruido
para no dejar abiertas las puertas
prendidas las luces
todo lo que soy trasborda
y me voy recogiendo por las calles en el centro de porto alegre
mirando los ambulantes que venden de todo
collares, anillos de semillas
remeras con la cara de che y lennon
el mac donald's alto al final de la vereda
una tienda de piedras preciosas y energeticas sacadas del suelo riograndense
un muro cerca la ciudad que aun así está a la orilla de un río
una mujer fuma acostada en un banco de la plaza de alfandega
los hombres bien vestidos (como en el barrio de tribunales)
las chicas abogadas cargan procesos con sus tailleurs
y zapatos de punta y tacos finos
E S C U C H O B E T H A N I A H A C E C A L O R
marcho para la tienda
me compro una zodalita
y me digo:
la tardecita de porto alegre tiene ese qué se yo, viste?
salgo de casa por arenales,
las olas altas me tragan de un solo golpe
sal y cuerpo de eliana por todos lados
el colectivo rojo me abre la puerta
desde el alma agradezco
tengo un viaje por adelante
P U E D O S O Ñ A R

olho

uma parte daquilo que nos move

A radiografia que vemos aí busca

busca

busca

a expressão de

pelo menos mais de um caráter

mais de um rito

mais de um estado

que é, pode-se dizer,

a manifestação do que seja a pessoa.

(A mancha azulada: seria tão bom se por aí nos enxergássemos manchas azuladas?)

Não satisfaria os desejos

o bom e o ruim e o feio e o bonito e tal

- tudo a gente quer que esteja atribuído, ali, na pessoa.(?)

Mas o que temos, no dia-a-dia

é o corpo vestido

que se transporta

emite sons

se conforma a um espaço depois a outro

reage a sinais

cria outros

reproduz o eco dos acontecimentos

ih

mas está involucrado no limite da pele

- fisicamente, a embalagem.

Então, o raio xis que vemos aí busca.

Busca o que não se vê

e por isso

não se convive com

não se conhece

mas que é

a variável imaginada

de um dentre os incontáveis elementos que compõem o que pessoas são.



cartão postal


Esta luz,

esta mesa de trabalho,

o papel cor de limão,

as unhas descascadas,

de vez em quando,

assim como uma gripe,

uma tontura no meio da tarde,

o sono que entrega às sete,

as coisas encravadas no ar

hão de precisar de ti,

clamar tua forma,

existir por tua estada no mundo ainda que não durem a temperatura do corpo,

ainda que só o meu corpo possa exsudar algo de calor,

ainda que esses instantes comecem,

breves,

e que em mim termine o intervalo,

e que as mãos gelem,

os lábios se apertem,

pois não você não está,

é fato,

em nada,

a não ser em meu estado de graças ou nostalgia,

um cão na rua que se aproxima do esgoto,

(ali o cão terá mais calor que o esgoto, imagino, não que haja comparação, pois não há).

Por isso a frase se faz,

e acabo outra.

As frases são para emprestar

e enquanto têm, compõem,

mas também tomam respiração.

Até a frase,

estrutura completamente incompatível com a vida,

é fôlego.


Nisto que é uma radiografia de mim,

o pleonasmo,

a elipse,

a hipérbole,

na inutilidade,

a pessoa vem em sua total condição:


cartão postal.




colo (da mão)

quinta-feira, 16 de julho de 2009

tradução de artigo de www.pagina12.com.ar

Sabiam e ajudaram um pouquinho
A Casa Branca conhecia há meses o golpe que se preparava em Honduras, ainda que agora os porta-vozes do Departamento de Estado finjam uma inocência surpreendida. O atual embaixador estadunidense em Tegucigalpa, Hugo Llorens, sabe muito bem: o 12 de setembro de 2008 chegou no país centro-americano e, nove dias depois, o então golpista general Romeo Vásquez declarava pela emissora HRN que o haviam procurado "para botar no governo o presidente Manuel Zelaya Rosales" (www.proceso.hn, 21-9-08). Acrescentou: "Somos uma instituição séria e respeitosa, por isso respeitamos o Senhor Presidente como nosso Comandante Geral e nos subordinamos como manda a lei." Igualzinho a Pinochet, antes de levantar-se contra Salvador Allende. Qualquer semelhança é mera obra da realidade.
Em 2 de junho deste ano, Hillary Clinton auxiliou Honduras a participar de uma reunião da OEA. Entrevistou Zelaya e manifestou a ele sua desconformidade com o referendo que o mandatário planejava levar a cabo simultaneamente com as próximas eleições presidenciais. Funcionários norte-americanos assinalaram que "não acreditavam que este plebiscito fosse constitucional" (The New York Times, 30-6-09). Seis dias antes do golpe, o jornal hondurenho La Prensa informava que o embaixador Llorens tinha se reunido com políticos influentes e chefes militares "para buscar uma solução à crise" causada pelo referendo (www.laprensahn.com, 22-6-09.) A "solução" encontrada é notória.
É difícil supor que os comandos militares de Honduras, armados pelo Pentágono e formados na Escola das Américas, que a tantos ditadores latino-americanos ensinou como agir, se tenham movimentado sem o acordo de seus mentores. Além disso, os golpistas não esconderam os motivos de seus ato: Zelaya estava se aproximando demais ao "comunista" Chávez, o venezuelano mais odiado pela Casa Branca: em julho de 2008, sob seu mandato, Honduras aderiu à Aliança Bolivariana para as Américas (ALBA), o novo "eixo do mal" na América Latina. Demais, não é verdade?
Sim, demais, porque Honduras é território estratégico para o Pentágono, que desde a base de Soto Cano, onde são estacionados efetivos da força aérea e da infantaria estadunidense, não só domina América Central: este verdadeiro enclave é fundamental no esquema militar dos Estados Unidos para uma região rica em recursos naturais. Mesmo que nunca tenha tocado os interesses das corporações estrangeiras nem dos donos locais do poder econômico, Zelaya constituía um perigo de "desestabilização". Cabe assinalar que o referendo sobre a convocatória ou não de uma Assembleia Constituinte que poderia permitir a reeleição de Zelaya não era vinculante. Ninguém se incomodou em Washington pela reforma constitucional que permitiu, na Colômbia, a reeleição de Alvaro Uribe, grande aliado dos Estados Unidos, que nem sequer foi levada a plebiscito. É que uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa.
Os golpistas hondurenhos são inapresentáveis. O general Romero Vásquez Velásquez, expulso por Zelaya, de volta com o golpe e autor do sequestro e expulsão do presidente, foi alojado na penitenciária nacional em 1993 junto com outros dez membros de um grupo acusado de roubar 200 carros de luxo (www.elheraldo.hn, 2-2-93). Era então major do exército; como general, se dedica a roubar um governo eleito nas urnas. Outro inapresentável é o ministro conselheiro Billy Joya, que não honra o sobrenome - que significa "joia"* (ou sim, conforme se interprete): foi chefe da divisão tática do batalhão B3-16, o esquadrão da morte hondurenho que torturou e "desapareceu" com várias pessoas nos anos 80. O "Licenciado Arrazola" - um de seus aliados - é especialista na matéria: estudou os métodos das ditaduras argentina e chilena (www.michelcollon.info, 7-7-09). São antecedentes conhecidos, pese o qual, ou por isso mesmo, foi eleito para fazer parte do regime golpista, tão democrático, pois.
A repressão em Honduras continua. Quinta-feira passada, foi detido o pai de Isis Obeid Murilli, jovem de 19 anos assassinado pelo exército no aeroporto de Tegucigalpa: teve a peregrina ideia de exigir justiça para seu filho (www.wsws.org, 11-7-09). Os salvadores da democracia expulsaram os jornalistas da Associated Press, desapareceram da tela do Canal 21 e efetivos armados ocuparam o canal 36 (Miami Herald, 1-7-09). É a concepção da liberdade de imprensa que caracteriza os golpistas.
A Casa Branca segue calma, com o que qualificou de "ato ilegal". Hillary se nega a referir-se ao acontecido como "golpe de Estado" porque isso implicaria automaticamente na interrupção da ajuda econômica e militar estadunidense a Honduras. As conversações sobre um acordo pacífico que acontecem na Costa Rica, em que o presidente Oscar Arias atua de mediador a pedido de Obama, são uma farsa. Mas têm um lado importante: envolvem um reconhecimento oficial do regime imposto. Arias já anunciou que chamará de "presidente" tanto o golpista Micheletti como o mandatário eleito nas urnas e deposto. Isso sim é que é igualdade.

Original em espanhol por Juan Gelman
Tradução por Eliana Guedes
*Acréscimo desta tradutora

(Tradução para o português de artigo publicado em www.pagina12.com.ar - site argentino)

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Contar

::::Allí donde uno diría que ya no puede haber nada::::

::::Tu rostro mañana de Javier Marías::::

No debería uno contar nunca nada, ni dar datos ni aportar historias ni hacer que la gente recuerde a seres que jamás han pisado el mundo o que estaban ya medio a salvo en el inseguro olvido.
Contar es casi siempre un regalo,

terça-feira, 14 de julho de 2009

as simples regras

'Ah, se eu pudesse fechar como um telescópio! Acho que eu poderia, se soubesse por onde começar.´Pois, é claro, tantas coisas fora do comum estavam acontecendo, que Alice começou a achar que pouquíssimas coisas, na verdade, eram realmente impossíveis.

Mas ficar parada na frente da portinha não adiantava nada. Então, ela voltou para a mesa, com alguma esperança de encontrar outra chave sobre ela ou, por acaso, um manual de instruções para fechar pessoas como caleidoscópios: mas desta vez, a menina encontrou uma pequena garrafa na mesa (´que, provavelmente, não estava aqui antes´, disse Alice), e em volta do gargalo da garrafa havia um rótulo de papel que dizia ´BEBA-ME`, impresso em bonitas letras maiúsculas.

Tudo muito bem com o ´BEBA-ME`, mas a pequena e sábia Alice não teria pressa em fazê-lo. ´Não, vou ver primeiro´, disse ela, ´se está escrito "veneno" ou não´; pois ela já tinha ouvido contar várias estorinhas de crianças que haviam sido queimadas ou engolidas por monstros selvagens e outras coisas desagradáveis, tudo porque NÃO TINHAM lembrado as simples regras que as amigas lhe haviam ensinado.(...)

quinta-feira, 9 de julho de 2009

há o que se inventa

(...) Com vocês, que são mais jovens, isso ainda não deve acontecer, mas chega um momento em que a gente confunde o que viu com o que contaram, o que presenciou com o que sabe, o que lhe aconteceu com o que leu, na realidade é milagroso que o normal seja distinguirmos, distinguimos bastante afinal de contas, e é estranho, todas as histórias que ao longo de uma vida se ouvem e se vêem, com o cinema, a televisão, o teatro, os jornais, os romances, vão se acumulando todas e são confundíveis. Já é assombroso que a maioria das pessoas ainda saiba o que de fato lhes aconteceu. (…) Digamos que, fora casos extremos, a memória própria ainda se mantém bastante a salvo, bastante incólume, a gente se lembra do que viu e ouviu pessoalmente de uma maneira distinta de como se lembra dos livros ou dos filmes, mas a coisa já não varia tanto quando se trata do que os outros viram e ouviram e presenciaram e souberam e depois nos contaram.
E há o que se inventa.
Coração tão branco, Javier Marías.

inventa o diário

as mãos
a bic mordida
os números dois, cinco e seis
os pedaços de ouro branco
o papel que brilha
a bola
a corrente
o wagner moura
o soneto da florbela
os passos de quem não manca
cadeira, formiga, marrom
bota precisando tinta
dedo precisando força
óculos no nariz
a janela
a cancela
os carros
o guarda
a porta de vidro abre, fecha
o celular avisa
vai terminar