quinta-feira, 9 de julho de 2009

há o que se inventa

(...) Com vocês, que são mais jovens, isso ainda não deve acontecer, mas chega um momento em que a gente confunde o que viu com o que contaram, o que presenciou com o que sabe, o que lhe aconteceu com o que leu, na realidade é milagroso que o normal seja distinguirmos, distinguimos bastante afinal de contas, e é estranho, todas as histórias que ao longo de uma vida se ouvem e se vêem, com o cinema, a televisão, o teatro, os jornais, os romances, vão se acumulando todas e são confundíveis. Já é assombroso que a maioria das pessoas ainda saiba o que de fato lhes aconteceu. (…) Digamos que, fora casos extremos, a memória própria ainda se mantém bastante a salvo, bastante incólume, a gente se lembra do que viu e ouviu pessoalmente de uma maneira distinta de como se lembra dos livros ou dos filmes, mas a coisa já não varia tanto quando se trata do que os outros viram e ouviram e presenciaram e souberam e depois nos contaram.
E há o que se inventa.
Coração tão branco, Javier Marías.

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