Esta luz,
esta mesa de trabalho,
o papel cor de limão,
as unhas descascadas,
de vez em quando,
assim como uma gripe,
uma tontura no meio da tarde,
o sono que entrega às sete,
as coisas encravadas no ar
hão de precisar de ti,
clamar tua forma,
existir por tua estada no mundo ainda que não durem a temperatura do corpo,
ainda que só o meu corpo possa exsudar algo de calor,
ainda que esses instantes comecem,
breves,
e que em mim termine o intervalo,
e que as mãos gelem,
os lábios se apertem,
pois não você não está,
é fato,
em nada,
a não ser em meu estado de graças ou nostalgia,
um cão na rua que se aproxima do esgoto,
(ali o cão terá mais calor que o esgoto, imagino, não que haja comparação, pois não há).
Por isso a frase se faz,
e acabo outra.
As frases são para emprestar
e enquanto têm, compõem,
mas também tomam respiração.
Até a frase,
estrutura completamente incompatível com a vida,
é fôlego.
Nisto que é uma radiografia de mim,
o pleonasmo,
a elipse,
a hipérbole,
na inutilidade,
a pessoa vem em sua total condição:
cartão postal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário