segunda-feira, 24 de agosto de 2009
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Como fazer de seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 16
Foi por literatura que não me afundei no teu pescoço e morri na gola da tua camisa, foi por amor a Mário, Carlos, Julio, Clarice (os amores possíveis), foi por letras de Renato, por páginas de Florbela, por sussurros de Gullar, esse meu nobre pobre amigo de agosto, foi pelo mês de agosto que não sucumbi a teu rosto pequeno mas teu rosto no canto da tela - ausência tua, bastava uma tecla minha. Foi por literatura, por essas infâmias, foi por nossas estranhas maneiras de comportamento, foi por um belo instrumento de fala, foi porque tenho agora a fala rala, porque hoje não é novembro, porque chove, porque parou de chover, porque na foto o céu é sempre azul e liso engomado no ferro a vapor, que literatura, que palavras duras chegando a pontos finais, o ponto marcado, o encontro. Foi por querer Hilst e dormir com Andrade, acordar suada, os tapetes peludos e a cara aberta do Ferreira no retrato, foi por te amar de quatro, por feder a minha blusa e por não saber mais (perdendo os traços de Beatriz) como é o beijo do teu beijo que tocou minha boca que beijou a tua e te deu o beijo. Foi por literatura, pelo capítulo sete, foi pela esquina de nazca com aquela outra, foi porque pensei e se eu tivesse ido com o garçom do restaurante ao lado do teu prédio naquela tardezinha?, ah, foi por literatura, vai, porque era teu o sorriso irônica a covinha o doce dentro do ouvido fazendo perfume na praça, foi por correr nua ao lado do cavalo que soltaste das correntes aos dois graus e meio, a tevê ligada, a senhora chorando na portaria, os casais entrando contentes, mais contentes ainda saíam, foi pelos hífens que eliminaram da ortografia, pelos sanduíches de miga no Rivadavia, pelas migalhas que se produzem entre a noite e o dia, pelas tardes de trem, preguiça, uma poltrona aberta com o teu corpo dentro, teus olhos voltados pro firmamento, uma porta arrancada, às pressas, teus vazios na escada, a massa morta de mim ao lado do gato, os berros de que não fui eu, a esteira, (Bersuit nos alto-falantes anunciava a partida, minha, para a terra, de ninguém, no acaso. Ia, pelo bem).
[Para ler com voz de Elisa Lucinda ou pedir pra ela ler, se chegar perto]
[Para ler com voz de Elisa Lucinda ou pedir pra ela ler, se chegar perto]
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Como fazer de seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 16
O guapuruvu
Naquela noite, a garota e seu partner voltaram do bar na carona do caminhão da Coca-cola. Madrugada, pouca gente, ela sabia dirigir, mas não tinha carro. Ele tinha carro à disposição, mas ainda iniciante na autoescola, não andava no corcel de noite. E como os pais dela não gostavam da filha cantando em bar da Cidade Baixa, não emprestavam a belina. Sentaram nos engradados, ele segurando o violão, e os bolsos forrados do couvert artístico - coisa de três pila por cabeça, que o violonista e a cantora crooner dividiam a 1,50 para cada um, houvesse só um vivente no bar assistindo, era isso que cada um levava pra casa. Havia poucos bares de música ao vivo na cidade, do tipo voz e violão. O Cokeru´s era de um argentino que dera por aí com os cornos, saído sabe-se lá de quê. De vez em quando, ele pedia que a gente fizesse Alfonsina. E a gente fazia. Cantava junto, o argenta. A garota de 19 anos atraiu muitos amigos seus e de seus amigos para o estabelecimento em frente ao Pão dos Pobres. Ovelha negra, da Rita Lee, não podia faltar. Era inverno. Ela gostava de usar o blusão tricotado pela irmã, todo colorido. Cabelo curto, pegava o microfone de madeira, isso mesmo, de madeira!, olhava bem pra ele. E cantava noite afora.
Naquela noite, a garota e seu partner voltaram do bar na carona do caminhão da Coca-cola. Madrugada, pouca gente, ela sabia dirigir, mas não tinha carro. Ele tinha carro à disposição, mas ainda iniciante na autoescola, não andava no corcel de noite. E como os pais dela não gostavam da filha cantando em bar da Cidade Baixa, não emprestavam a belina. Sentaram nos engradados, ele segurando o violão, e os bolsos forrados do couvert artístico - coisa de três pila por cabeça, que o violonista e a cantora crooner dividiam a 1,50 para cada um, houvesse só um vivente no bar assistindo, era isso que cada um levava pra casa. Havia poucos bares de música ao vivo na cidade, do tipo voz e violão. O Cokeru´s era de um argentino que dera por aí com os cornos, saído sabe-se lá de quê. De vez em quando, ele pedia que a gente fizesse Alfonsina. E a gente fazia. Cantava junto, o argenta. A garota de 19 anos atraiu muitos amigos seus e de seus amigos para o estabelecimento em frente ao Pão dos Pobres. Ovelha negra, da Rita Lee, não podia faltar. Era inverno. Ela gostava de usar o blusão tricotado pela irmã, todo colorido. Cabelo curto, pegava o microfone de madeira, isso mesmo, de madeira!, olhava bem pra ele. E cantava noite afora.
Como fazer de seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 15
Os namorados, os amantes (imagem do tarot de Alester Crowley)
O Arcano VI parece referir-se de forma alegórica à famosa parábola de Hércules na encruzilhada entre a Virtude e o Vicio, tal como conta Xenofonte nas suas lembranças de Sócrates.
A antiguidade desta parábola é indiscutível, mesmo que as suas representações gráficas mais remotas não tenham chegado até nós. Na vida de Apolônio de Tiana, narrada por Filostrates no final do século II, há uma curiosa passagem em que um sábio egípcio diz a Apolônio:
“Tu conheces, nos livros de imagens, a representação de Hércules em que ele, jovem, ainda não escolheu o seu caminho. O Vício e a Virtude o rodeiam, tentam atraí-lo, cada um o quer para si...
Os amantes representam o impulso que nos leva à vida adulta.
Às vezes, o impulso se manifesta como curiosidade; outras, como desejo sexual; e ainda, se manifesta como um dever, uma missão. Seja o que for, uma vez que ultrapassamos as portas do Jardim do Éden, não há retorno.
Precisamos das pessoas para nos tornarmos completamente humanos. Amantes, amigos, adversários - cada um nos ensina, nos faz ir além. Pode nos matar. Pode partir nossos corações.
http://www.clubedotaro.com.br
http://en.wikipedia.org
Como fazer de seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 14
O que é austeridade?
Austera idade.
(e, segundo o Houaiss...)
Autocontrole. Importante, não com grandes alturas, porque o tombo será enorme.
Autodomínio. Parece mas não é autocontrole, é domínio com largueza de si. Cada vez mais difícil quanto mais a gente vê que o tudo que se sabe não é o que se crê. Melhor ir, mesmo assim.
Circunspecção. Se for no círculo, cuidado.
Comedimento. Detesto.
Compostura. Abomino.
Continência. Horror.
Critério. Ahá.
Desafetação. Impossível. Sem afeto?
Despojamento. Se for, assim, despojar-se do número de jeans, colares, pulseiras, valores que se vão. Mas também são úteis, quando não são fúteis.
Discrição. Está bueno eso.
Equilíbrio. Está mejor. Precisa do desequilíbrio, do not forget.
Frugalidade. Levinho.
Gravidade. Inexorável.
Juízo. Não carece, mas cacareja.
Lhaneza. Lisura?
Maneiras. Não há quem não as tenha.
Método. Não há quem não o tenha.
Moderação. É do ser humano?
Modéstia. Existe.
Modo. Jônico.
Naturalidade. Palavra que corre junto com o rio.
Ordem. Esteticamente, melhor que desordem.
Parcimônia. Ná.
Ponderação. Para entrevistas de emprego.
Prudência. Idem.
Recolhimento. É o colo.
Regra. Menstruação.
Reserva. Em bons hotéis. E no encontro marcado.
Respeito. É bom e eu gosto.
Retraimento. Gosto e dá dor nas costas. Que nem comer tatu.
Rigor. Monástico? Sou acometida.
Sensatez. Minha infância.
Senso. Minha infância.
Seriedade. Minha infância.
Severidade. Cansei.
Simplicidade. O galho que está crescendo pra dentro da minha janela.
Singeleza. O verde da folha desse galho.
Siso. Dente.
Sisudez. Eu com cinco anos.
Sobriedade. Nos agoras, arf.
Têmpera. Tinta.
Temperança. A carta do tarot, a água escorre de um vaso a outro, para que se tempere.
Tino. Fundamental.
Virtude. Sou cheia, hhmm.
Vulto. Susto.
Restrição. Dor.
Vigor. Astúcia. Dança.
Austera idade.
(e, segundo o Houaiss...)
Autocontrole. Importante, não com grandes alturas, porque o tombo será enorme.
Autodomínio. Parece mas não é autocontrole, é domínio com largueza de si. Cada vez mais difícil quanto mais a gente vê que o tudo que se sabe não é o que se crê. Melhor ir, mesmo assim.
Circunspecção. Se for no círculo, cuidado.
Comedimento. Detesto.
Compostura. Abomino.
Continência. Horror.
Critério. Ahá.
Desafetação. Impossível. Sem afeto?
Despojamento. Se for, assim, despojar-se do número de jeans, colares, pulseiras, valores que se vão. Mas também são úteis, quando não são fúteis.
Discrição. Está bueno eso.
Equilíbrio. Está mejor. Precisa do desequilíbrio, do not forget.
Frugalidade. Levinho.
Gravidade. Inexorável.
Juízo. Não carece, mas cacareja.
Lhaneza. Lisura?
Maneiras. Não há quem não as tenha.
Método. Não há quem não o tenha.
Moderação. É do ser humano?
Modéstia. Existe.
Modo. Jônico.
Naturalidade. Palavra que corre junto com o rio.
Ordem. Esteticamente, melhor que desordem.
Parcimônia. Ná.
Ponderação. Para entrevistas de emprego.
Prudência. Idem.
Recolhimento. É o colo.
Regra. Menstruação.
Reserva. Em bons hotéis. E no encontro marcado.
Respeito. É bom e eu gosto.
Retraimento. Gosto e dá dor nas costas. Que nem comer tatu.
Rigor. Monástico? Sou acometida.
Sensatez. Minha infância.
Senso. Minha infância.
Seriedade. Minha infância.
Severidade. Cansei.
Simplicidade. O galho que está crescendo pra dentro da minha janela.
Singeleza. O verde da folha desse galho.
Siso. Dente.
Sisudez. Eu com cinco anos.
Sobriedade. Nos agoras, arf.
Têmpera. Tinta.
Temperança. A carta do tarot, a água escorre de um vaso a outro, para que se tempere.
Tino. Fundamental.
Virtude. Sou cheia, hhmm.
Vulto. Susto.
Restrição. Dor.
Vigor. Astúcia. Dança.
Como fazer de seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 13
n e c e s s i d a d e d e c o r t a r l a ç o s
Um homem barbado,
recurvado,
de idade avançada,
segura em sua mão direita uma lanterna parcialmente coberta por uma capa, que representa o conhecimento da ciência oculta.
Ele se apoia no bordão (bastão) da prudência, que o acompanha em sua busca.
O ermitão ou eremita mantém a lanterna bem perto dos olhos para se orientar melhor, mostrando a luz da inteligência e da sabedoria.
Esta lamparina também significa a luz da verdade.
A luz atinge o passado, o presente e o futuro.
O tom escuro de seu manto simboliza a austeridade.
Ele segue sua viagem através do tempo como um solitário,
tendo como único consolo a sabedoria, que as vezes, é um penoso fardo.
Este arcano se refere à acumulação de conhecimentos e está disposto a ouvir e ajudar os que o procuram.
Representa o valor do conhecimento adquirido à custa de trabalho ininterrupto, que apenas mentes privilegiadas conseguem desenvolver.
A luz do ermitão o envolve e o inclina à pesquisa paciente, aos estudos.
O Eremita ou Ermitão é o nono Arcano maior do Tarot.
É uma carta que simboliza o isolamento, restrição, afastamento.
O eremita isola-se para descobrir o conhecimento que o rodeia, na natureza, por exemplo, e também para se autoconhecer.
O aspecto fundamental é que necessita cortar os laços (temporariamente ou não) com a sociedade que o rodeia.
A carta tem o número IX e a letra hebraica TET.
Extraído/adaptado de Wikipedia http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Eremita_(Tarot)
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terça-feira, 18 de agosto de 2009
Como fazer do seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 12
"E já que falei na minha aventura peço uma coisa e aviso outra. Não pensem vocês, aí de Minas, que sou um qualquer leviano e estou dando por paus e por pedras sem saber bem o que estou fazendo. A aventura em que me meti é uma coisa séria já muito pensada e repensada. Não estou cultivando exotismos e curiosidades de linguajar caipira. Não. É possível que por enquanto eu erre muito e perca em firmeza e clareza e rapidez de expressão. Tudo isso é natural. Estou num país novo e na escureza completa duma noite. (...) O povo não é estúpido quando diz 'vou na escola', 'me deixe', 'carneirada', 'mapear', 'besta ruana', 'farra', 'vagão', 'futebol'. É antes inteligentíssimo nessa aparente ignorância porque sofrendo as influências da terra, do clima, das ligações e contatos com outras raças, das necessidades do momento e da adaptação, e da pronúncia, do caráter, da psicologia racial modifica aos poucos uma língua que já não lhe serve de expressão porque não expressa ou sofre essas influências e a transformará afinal numa outra língua que se adapta a essas influências. Então os escrevedores estilizam esse novo vulgar, descobrem-lhe as leis embrionárias e a língua literária, única que tem reconhecimento universal (aqui sinônimo de culto) aparece. Nessa estrada me meti. Sei que tudo está por fazer. E o que é pior sei que uma palavra brasileira empregada na escrita soa pra todos como exotismo, regionalismo porque só como regionalismo exótico foi empregada até agora.(...)"
Mário de Andrade in A lição do amigo (cartas a Carlos Drummond de Andrade, escritas entre 1925 e 1945)
Mário de Andrade in A lição do amigo (cartas a Carlos Drummond de Andrade, escritas entre 1925 e 1945)
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terça-feira, 11 de agosto de 2009
Como fazer do seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 11
Vinho tinto com os UB40. Uma cabana na floresta tem gente dentro. Mais de uma pessoa, a não ser que seja a morada do eremita, aquela carta bonita do tarot. O filme foi Philadelphia, o ator, Tom Hanks, e eu não tinha lembrança nenhuma de que o Banderas trabalhava aí. A cabana esteve quente desde a noite até a manhã. Não parece mais o lago gelado com o monstro dentro. Agora, é a clareira na floresta, e o monstro cuida pra não se queimar. Hare.
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
Como fazer do seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 10
A cabana, ontem, estava montada. No aquecedor, a toalha, as calcinhas, secavam. No rádio, um episódio de Woodstock - Janis, principalmente -, homenagem ao aniversário de 40 anos do festival, em 15 de agosto. Ah, e I put a spell on you, by the Blood, Sweat and Tears. Nesse aconchego, o E.T. conheceu: minha casa... minha casa. Embora as dores de nervo e músculo, que a acupuntura vai ajudar a tratar. Embora seja: uma pessoa e uma pessoa e uma. Eu.
O jotacá virou cabana mesmo: contei mais três camas, além da minha.
O jotacá virou cabana mesmo: contei mais três camas, além da minha.
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sexta-feira, 7 de agosto de 2009
Como fazer do seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 9
"The river always called to be visited after dark, the fields needed to be walked in so they could make their rustle-talk. Fires needed to be built in the forest at night, and stories needed to be told outside the hearing of grown-ups. (...) they danced in the forest where no one could see them, or in the basement, or on the way out to empty the trash. Self-decoration caused suspicion. (...) I lived my life as a disguised criatura(...) I've not forgotten the song of those dark years, hambre del alma, the song of the starved soul. But neither have I forgotten the joyous canto hondo(...)"
Clarissa Pinkola Estés in Women who run with the wolves.
Clarissa Pinkola Estés in Women who run with the wolves.
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quinta-feira, 6 de agosto de 2009
Como fazer do seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 8
Sem acabamento. É claro, um verde ali. E margaridas. As pernas do jeans vazias na poltrona. A água correndo no chuveiro. O rádio cantando. Nas frestas da persiana, o lustre da casa ao lado. Meias. Empillhados, os dois volumes de As mil e uma noites. Terra no solado da bota, sabão gasto no tanque, alguém andou ouvindo minha Billie. O guapuruvu: mato escuro.
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
Como fazer do seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 7
do-do-do-do. Água pura da fonte. Canto vindo do fundo, rosto parado, boca trabalhando.
Como fazer do seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 6
"(...) escute, Senhora D, se ao invés desses tratos com o divino, desses luxos do pensamento, tu me fizesses um café, hein? (...) Agora que Ehud morreu vai ser mais difícil viver no vão da escada,(...) Senhora D, é definitivo isso de morar no vão da escada? você está me ouvindo Hillé? olhe, não quero te aborrecer, mas a resposta não está aí, ouviu? nem no vão da escada, nem no primeiro degrau aqui de cima, será que você não entende que não há resposta? (...)
Quando Ehud morreu morreram também os peixes do pequeno aquário, então recortei dois peixes pardos de papel, estão comigo aqui no vão da escada, no aquário dentro d'água, não os mesmos, a cada semana recorto novos peixes de papel pardo(...)"
Hilda Hilst in A obscena Senhora D
Quando Ehud morreu morreram também os peixes do pequeno aquário, então recortei dois peixes pardos de papel, estão comigo aqui no vão da escada, no aquário dentro d'água, não os mesmos, a cada semana recorto novos peixes de papel pardo(...)"
Hilda Hilst in A obscena Senhora D
Como fazer do seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 5
Cabana é habitação pequena ou simples, geralmente campestre ou em local afastado, feita com materiais rústicos ou de pouco valor (como palha, ramos, etc.) e sem acabamento; barraca. A cama que comprei já lembra as de campanha, embora não seja de madeira, mas de metal. Mas ontem, quando estive no apartamento, pareceu que alguém por lá andava. Um tecido esticado em tons de azul pendia da grade da cama esta, logo na entrada, dando ares de cortina, como que protegendo alguém ou algum lugar. Pareceu um abrigo. Pareceu habitado. Fazendo já bem uns dias que não durmo lá, diria que o espírito que evocava durante o expediente viajou para lá, no meio da tarde.
O agosto branco hoje fotografado na capa do jornal, mostrando a capa de nuvens que cobre a cidade de São Paulo e impede o pouso dos aviões, remete à imagem que vi, horas antes, de um alpinista no cume do Aconcágua: o mesmo branco, o tapete, a terra firme que engana o olho. É esta capa nebulosa que talvez vista as razões, agora, de uma pessoa inventar tantos recursos para querer se instalar num espaço. Nunca foi tão difícil. A capa branca de agosto pode, quem sabe, enganar ideias: vim de um inverno gelado, de uma morada estrangeira, de uma esquina de colégio e Quilmes quebradas no asfalto. Vim da quadra do kiosco do Rolo e dos bilhetes que me deixavam ali, e que ele, Rolo, guardava. Das noites de cumbia no rádio, amor e calor, a eternidade. Lá, eu me encolhia nos xales e devorava os capítulos da Rayuela.
O agosto branco hoje fotografado na capa do jornal, mostrando a capa de nuvens que cobre a cidade de São Paulo e impede o pouso dos aviões, remete à imagem que vi, horas antes, de um alpinista no cume do Aconcágua: o mesmo branco, o tapete, a terra firme que engana o olho. É esta capa nebulosa que talvez vista as razões, agora, de uma pessoa inventar tantos recursos para querer se instalar num espaço. Nunca foi tão difícil. A capa branca de agosto pode, quem sabe, enganar ideias: vim de um inverno gelado, de uma morada estrangeira, de uma esquina de colégio e Quilmes quebradas no asfalto. Vim da quadra do kiosco do Rolo e dos bilhetes que me deixavam ali, e que ele, Rolo, guardava. Das noites de cumbia no rádio, amor e calor, a eternidade. Lá, eu me encolhia nos xales e devorava os capítulos da Rayuela.
terça-feira, 4 de agosto de 2009
Como fazer do seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 4
O que já adianta um lado é que no meu jotacá a janela dá para uma árvore e ali pousam passarinhos. Agora, quando se olha, entrando, para o recinto, parece uma cozinha com móveis de quarto. Digo cozinha porque o chão é de uma. Aqui o desafio é maior: importantíssimo revestir esse chão gelado. Numa cabana, as coisas de que ela é feita vêm da árvore. Num apartamento, os materiais vêm do cimento, da cal, dos rejuntes. Onde entra uma pessoa no meio de tanto rejunte?É o lugar da pessoa, ou das pessoas, que reivindico aqui, e por isso vou preparando, tomo a tomo, um espírito que possa habitar aquele compartimento. A mãe-natureza, os quero-queros, um poço artesiano, macegas, a estrada correndo e dobrando até que se chegue, cansado e feliz. Sim, eu tenho: esperança.
Como fazer do seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 3
Uma luzinha de teto bem em cima da cama com aquela cordinha pendurada para acender e apagar. Vi isso ontem na cabana da família de Dan, personagem do filme Eu, meu irmão e nossa namorada (ou algo assim). A casa é toda de madeira por dentro. E é bom a pessoa deitada poder ficar puxando aquele troço, escuro-claro-escuro-claro-escuro-claro, em seguida se ouvem os grilos.
Outra coisa que tem é muito pano - colcha, cobertor dobrado, cortina, toalha na mesa.
Outra coisa que tem é muito pano - colcha, cobertor dobrado, cortina, toalha na mesa.
Como fazer do seu jotacá uma cabana na floresta - tomo 2
Primeira ideia: nao dá. Jotacá é jotacá, cabana é cabana. Na floresta, então...
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Filmes que eu quero ver
1. Irma la douce (um monte de vezes)
2. com Anthony Hopkins (escolher BEM)
3. com Phillip Seymour Hoffman (idem, esses americanos...)
4. de Luchino Visconti
5. de Fellini
6. de Trouffaut
7. de Pasolini
8. de Glauber Rocha: Deus e o diabo na terra do sol e Terra em transe
9. primeira temporada de Law and order - Special Victims Unit
10. não sei o que do eu te amo (está passando ainda na cidade)
11. Loki (de qualquer maneira)
2. com Anthony Hopkins (escolher BEM)
3. com Phillip Seymour Hoffman (idem, esses americanos...)
4. de Luchino Visconti
5. de Fellini
6. de Trouffaut
7. de Pasolini
8. de Glauber Rocha: Deus e o diabo na terra do sol e Terra em transe
9. primeira temporada de Law and order - Special Victims Unit
10. não sei o que do eu te amo (está passando ainda na cidade)
11. Loki (de qualquer maneira)
Ficando
Fui ficando só. Uma pessoa dizia: você não pode se lembrar da morte de fulana, você era tão criança. Daí, pra mim, eu já estava fora daquela conversa. Não era aquilo. Era uma ferida grande e não tinha palavrea. Eu seguia, evitando aquela pessoa. Não que me conformasse, pelo contrário, eu desejava a morte da pessoa. Queria continuar, que é mudança, não tinha muito o que fazer naquela vida parada. Não nasci para fotografia. Para ser aquela que só é olhada, assistida, como se assiste televisão, uma propaganda.
A ânsia me arrastou, se eu conhecesse uma pessoa certa das coisas aquilo ia me sumindo, eu sumia pra poder estar com a pessoa. Depois, não aguentava. Quarenta anos parada no dilema, ou me julgando obrigada.
Me deu um nojo quando vi que a minha vida ia ficando por causa do que eu achava que as pessoas achavam de mim e que poderia desagradar. Comecei a andar, era o caminho triste, a ilha do medo, coisa e tal, mas antes eu tinha mais medo de nada. Ficar triste é uma moda de ficar bom pra si. Não ter a dívida, de ouro, que tanto maltrata no pensamento. Eu não conheço pessoa de bem que não seja um pouco estúpida, conheço mais gente de doideira que dá grandes feitos e depois esquece. Também não estou pra porrada - eu levo, aí eu vejo aquela porta aberta, e pode ser só uma frestinha, é por ali que eu vou. Isso se a coisa me dá nojo e dor no corpo. Hora em que não tenho mimos, não dou mimos, fecho e deu.
Tem de ser golpe fundo e pesado, mas às vezes, de gente pouco conhecida, pode ser uma sacadinha de nada. Fui ficando só. A gente aguenta de pé a solidão - esse caminho.
Toma de pé o vento, na cara, aí já não tem cabimento - por febre, por corno, por desdita, por qualquer amarelo que não for amarelo, uma pessoa segue pesando as suas medidas. Cada pessoa tem as suas medidas. De nada vale o metro do outro. Olho parado e besta não é.
A ânsia me arrastou, se eu conhecesse uma pessoa certa das coisas aquilo ia me sumindo, eu sumia pra poder estar com a pessoa. Depois, não aguentava. Quarenta anos parada no dilema, ou me julgando obrigada.
Me deu um nojo quando vi que a minha vida ia ficando por causa do que eu achava que as pessoas achavam de mim e que poderia desagradar. Comecei a andar, era o caminho triste, a ilha do medo, coisa e tal, mas antes eu tinha mais medo de nada. Ficar triste é uma moda de ficar bom pra si. Não ter a dívida, de ouro, que tanto maltrata no pensamento. Eu não conheço pessoa de bem que não seja um pouco estúpida, conheço mais gente de doideira que dá grandes feitos e depois esquece. Também não estou pra porrada - eu levo, aí eu vejo aquela porta aberta, e pode ser só uma frestinha, é por ali que eu vou. Isso se a coisa me dá nojo e dor no corpo. Hora em que não tenho mimos, não dou mimos, fecho e deu.
Tem de ser golpe fundo e pesado, mas às vezes, de gente pouco conhecida, pode ser uma sacadinha de nada. Fui ficando só. A gente aguenta de pé a solidão - esse caminho.
Toma de pé o vento, na cara, aí já não tem cabimento - por febre, por corno, por desdita, por qualquer amarelo que não for amarelo, uma pessoa segue pesando as suas medidas. Cada pessoa tem as suas medidas. De nada vale o metro do outro. Olho parado e besta não é.
Eu não sou velho, não.
E hoje subo "a subida mais escarpada, a mais à mercê dos ventos" (C. Lispector).
Em nós extremos, sorrio. Fui ao mercado para tomates. Faço sopa de tomates como ninguém. Gosto porque, lá em casa, o chão todo se desenha de peles de tomates que vou jogando. No mercado encontrei Graça, simpatia, queria ter os olhos dela no meu preparo da sopa. E ela me diz: bom dia, seu Leno. E eu: bom dia, moça Graça. Não sou velho, não. Mas penso que sou, no geral. Então Graça, que escolhia asas de frango, se mete nos meus tomates. Prefiro os graúdos mas ela pega os mais vermelhos de qualquer tamanho. Não vou discutir com Graça, eu, um velho que só come tomates. Carrego a cesta e vou para a balança. Não que eu quisesse convidar Graça, não que eu deseje convidar alguém para experimentar a minha sopa, disso estou farto, convites implicam, eu não tenho gosto por nada que implique. Mas volto pra casa alegre, abro a porta (alegre), pelo os tomates (alegre) e canto (se algum dia você vier me buscar, eu vou ai, ai, eu vou, eu sou marinheiro). Contratado para os meus afazeres, começo a morder os tomates crus, passo sem sopa. É amarga, mesmo.
Em nós extremos, sorrio. Fui ao mercado para tomates. Faço sopa de tomates como ninguém. Gosto porque, lá em casa, o chão todo se desenha de peles de tomates que vou jogando. No mercado encontrei Graça, simpatia, queria ter os olhos dela no meu preparo da sopa. E ela me diz: bom dia, seu Leno. E eu: bom dia, moça Graça. Não sou velho, não. Mas penso que sou, no geral. Então Graça, que escolhia asas de frango, se mete nos meus tomates. Prefiro os graúdos mas ela pega os mais vermelhos de qualquer tamanho. Não vou discutir com Graça, eu, um velho que só come tomates. Carrego a cesta e vou para a balança. Não que eu quisesse convidar Graça, não que eu deseje convidar alguém para experimentar a minha sopa, disso estou farto, convites implicam, eu não tenho gosto por nada que implique. Mas volto pra casa alegre, abro a porta (alegre), pelo os tomates (alegre) e canto (se algum dia você vier me buscar, eu vou ai, ai, eu vou, eu sou marinheiro). Contratado para os meus afazeres, começo a morder os tomates crus, passo sem sopa. É amarga, mesmo.
On The Sunny Side of The Street
Grab your coat and get your hatLeave your worry on the doorstep
Just direct your feet
To the sunny side of the street
Can't you hear a pitter pat
And that happy tune is your step
Life can be so sweet
On the sunny side of the street
I used to walk in the shade
With those blues on parade
But I'm not afraid
This rover crossed over
If I never have a cent
I'll be rich as Rockefeller
Gold dust at my feet
On the sunny side of the street
[ piano - harmonica ]
I used to walk in the shade...
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