segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Eu não sou velho, não.

E hoje subo "a subida mais escarpada, a mais à mercê dos ventos" (C. Lispector).
Em nós extremos, sorrio. Fui ao mercado para tomates. Faço sopa de tomates como ninguém. Gosto porque, lá em casa, o chão todo se desenha de peles de tomates que vou jogando. No mercado encontrei Graça, simpatia, queria ter os olhos dela no meu preparo da sopa. E ela me diz: bom dia, seu Leno. E eu: bom dia, moça Graça. Não sou velho, não. Mas penso que sou, no geral. Então Graça, que escolhia asas de frango, se mete nos meus tomates. Prefiro os graúdos mas ela pega os mais vermelhos de qualquer tamanho. Não vou discutir com Graça, eu, um velho que só come tomates. Carrego a cesta e vou para a balança. Não que eu quisesse convidar Graça, não que eu deseje convidar alguém para experimentar a minha sopa, disso estou farto, convites implicam, eu não tenho gosto por nada que implique. Mas volto pra casa alegre, abro a porta (alegre), pelo os tomates (alegre) e canto (se algum dia você vier me buscar, eu vou ai, ai, eu vou, eu sou marinheiro). Contratado para os meus afazeres, começo a morder os tomates crus, passo sem sopa. É amarga, mesmo.

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